Miguel Valente BentoPor um lado, se no decorrer da crise iniciada em 2008 a prioridade das grandes empresas passava por desinvestir em ativos “non-core”, assistimos hoje a largas quantias de dinheiro acumuladas nos balanços destas empresas 

Depois de um ano de 2013 marcado por incerteza face às políticas económicas Europeia e Americana, a par da redução do crescimento económico na China, 2014 ainda em fase embrionária, parece ter chegado como um ponto de viragem de ciclo na atividade de Fusões e Aquisições.

No mês passado Suntory, a holding japonesa de bebidas alcoólicas, anunciou a compra da rival Beam, numa transação avaliada em 16 mil milhões de dólares, a segunda maior transação de sempre da indústria. Também a gigante Google adquiriu a Nest Labs, por perto de 3.2 mil milhões de dólares enquanto a Lenovo se prepara para comprar o negócio de servidores de gama baixa da IBM por 2.3 mil milhões de dólares. Será esta uma tendência a perdurar no resto do ano? Factores estruturais indicam que sim. Por um lado, se no decorrer da crise iniciada em 2008 a prioridade das grandes empresas passava por desinvestir em ativos “non-core”, assistimos hoje a largas quantias de dinheiro acumuladas nos balanços destas empresas. Paralelamente, importantes catalisadores como o optimismo face à recuperação económica europeia, a subida de 30% do S&P 500 em 2013 bem como o baixo nível histórico das taxas de juro, que por sua vez cria oportunidades de financiamento barato para potenciais compradores, deverão contribuir para a explosão da atividade de F&A.

Adicionalmente, a indústria de “private equity” fechou o ano de 2013 com a quantia recorde de 1.07 triliões de dólares por investir, uma subida de 14% face a 2012 (Source: Preqin), pelo que vê-se agora na pressão de usar tais quantias ou ter de pedir mais tempo aos investidores, sob pena de exibir baixas taxas internas de rentabilidade. A acumulação de reservas por parte destes fundos, também conhecido como “dry powder”, potenciará não só maior procura por bons negócios, mas também um aumento da competição pelos mesmos, perspectivando-se elevadas avaliações.

Por outro lado, o fenómeno crescente de “shareholder activism” poderá forçar empresas como a Apple ou a Microsoft a devolver dinheiro aos acionistas sob a forma de recompra de ações próprias, refreando o espírito aquisitivo.

Indústrias como Tecnologia, “Healthcare”, Farmacêutica, e especialmente Telecomunicações parecem ser as apostas mais fortes. Esta última aparece como candidata a fortes movimentações dado ser uma indústria em forte consolidação, fruto da falta de crescimento orgânico. Veja-se o exemplo da fusão entre as nossas conhecidas Portugal Telecom e Oi, anunciada no passado mês de Outubro, que criará um operador global com mais de 100 milhões de clientes. Por sua vez, a Vodafone vê-se na iminência de receber perto de 130 mil milhões de dólares, em dinheiro e ações, como consequência da venda de 45% detidos na “joint venture” Verizon Wireless à parceira Verizon, terceiro maior negócio corporativo de sempre, podendo ter já identificado alvos a colocar na lista de compras.

Assim, será de esperar um retorno das grandes empresas às compras no decorrer deste ano, mesmo após plena época de saldos de inverno.

Article published on February 3rd, 2014 · Jornal de Negócios

Miguel Valente Bento · Head Investment Banking Division Nova Investment Club


0 Comments

Leave a Reply

Avatar placeholder

Your email address will not be published. Required fields are marked *