Gil_pass_formatNa comunidade europeia, Portugal é visto como uma criança mal comportada e a única culpada da crise em que vivemos hoje. Todavia, há outros órgãos da Zona Euro que também partilham connosco as responsabilidades da situação em que nos encontramos. Por isso, quando nos apontam o dedo, não podemos olhar para o chão.

 A crise da dívida soberana nasceu em 2008, quando Portugal aumentou os gastos do Estado em resposta à crise financeira que se propagou dos Estados Unidos até à Europa. A decisão de aumentar os gastos durante uma recessão é justificável, pois estas despesas são necessárias para contrariar as pressões negativas da crise no desemprego e rendimento das famílias. Como é do conhecimento geral, muitos dos projetos portugueses nascidos desta orientação política têm uma utilidade questionável. Todavia, mesmo que o Governo tivesse feito os investimentos corretos, também teria que contrair dívida para os pagar.

 Pelo mundo fora, quase todos os países agiram como Portugal e emitiram dívida para financiar políticas orçamentais expansionistas, em resposta à crise de 2008. No entanto, só os países da Zona Euro enfrentaram as dificuldades financeiras que vivenciamos hoje, apesar de estes terem uma economia mais sólida que a maioria dos outros parceiros internacionais antes da crise. Assim, não é razoável atribuir as dificuldades financeiras que se verificam em Portugal e noutros países europeus unicamente ao aumento dos gastos públicos. O que realmente liga estes países é a política monetária, que se encontra sob a égide do Banco Central Europeu.

 Empiricamente, verifica-se que emitir mais moeda é muito importante para a recuperação de uma crise de grande dimensão, como a de 2008. Por exemplo, um grande número de economistas acredita que, nos Estados Unidos, a recuperação desta crise foi mais célere do que em 1929, porque a Reserva Federal atuou rapidamente, aumentando a oferta de moeda significativamente. Deste lado do Atlântico, o Banco Central Europeu encontrava-se exageradamente preocupado com a inflação e foi demasiado tímido no que concerne às decisões da política monetária. Por conseguinte, a recuperação económica está a ser muito mais lenta na Zona Euro do que nos Estados Unidos.

 Adicionalmente, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, os países da Zona Euro não tiveram o apoio do Banco Central Europeu para adquirir a dívida usada no financiamento dos investimentos públicos necessários para evitar um agravamento da crise. Assim, estes países, além de verem a saída da crise retardada por uma política monetária insossa, sofreram uma crise adicional ao não terem o apoio do banco central no financiamento dos gastos necessários para a recuperação da economia.


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