Quando um investidor decide aplicar as suas poupanças nos mercados financeiros pode seguir uma estratégia passiva de “buy-and-hold”, comprando e mantendo um conjunto de ativos que replica o mercado, ou uma estratégia ativa, se considerar que as suas capacidades lhe permitem elaborar um plano de sucessivas transações que consigam obter uma performance superior à do mercado.
Relativamente à estratégia ativa, a maioria dos investidores tende a despender grande parte do seu tempo e recursos na procura de oportunidades de investimento em ativos que estejam a ser incorrectamente avaliados pelo mercado, sendo que a percentagem da sua riqueza que decidem alocar a cada uma destas oportunidades é algo que, muitas vezes, é decidido com base apenas em simples intuição.
John L. Kelly provou, em 1952, no seu estudo sobre apostas sequenciais ótimas, que, mesmo num jogo em que se possua clara vantagem informacional, uma pessoa que invista uma percentagem da sua riqueza superior à fração ótima dada pelo “critério de Kelly” (obtida através da vantagem probabilística) não só irá diminuir o seu retorno cumulativo no longo prazo como, se este excesso for significativo, acabará por destruir toda a sua riqueza. Isto deve-se ao facto de que, apesar das probabilidades serem favoráveis, o resultado final é sempre incerto. Portanto, caso se invista demasiado em cada jogada, é quase certa a perda total ao fim de algum tempo.
Estudos recentes no campo das finanças comportamentais têm demonstrado que decidir com base em pura intuição está fortemente exposto a enviesamentos causados pelo excesso de confiança e pela aversão à perda, havendo assim uma tendência para uma percentagem de investimento acima do nível ótimo. Assim sendo, uma pessoa que não possua um sistema matemático (não obrigatoriamente o de Kelly) que lhe permita ter uma referência da percentagem do seu capital que deve aplicar em cada investimento sequencial, vai eventualmente sofrer de prejudiciais variações excessivas no seu nível de riqueza, mesmo que todas as análises de mercado que tenha feito estivessem corretas.
Na minha opinião, embora em teoria este não seja um critério muito difícil de implementar, reside na capacidade de pô-lo em prática ao longo do tempo a distinção entre um bom investidor e um excelente investidor. Isto implica, num mundo onde as boas oportunidades de investimento são escassas e somos constantemente avaliados em comparação com os nossos pares, que um investidor realmente bom nas suas análises vai ter que conviver com o facto de que a frequência com que vai abdicar da obtenção de retornos extraordinários no curto prazo é claramente superior àquela em que o sistema vai permitir a garantia de solvabilidade. Contudo, sugiro a adoção deste método, pois no longo prazo não só estarão a maximizar o seu retorno acumulado como a contribuir para mercados financeiros menos voláteis.
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