Nos dias que correm, a baixa inflação e os grandes níveis de endividamento estrangulam os Estados soberanos de países desenvolvidos, na procura de soluções que fomentem o crescimento económico.
Visando reverter a situação, entidades centrais como a Reserva Federal Americana e o Banco Central Europeu reduziram as taxas de juro para níveis perto de zero. Criaram também programas de compra de ativos de longa duração para injetar mais dinheiro na economia, aumentar a liquidez, os gastos da população e a inflação. No entanto, os bancos comerciais possuidores de tais ativos, ao invés de aumentarem os créditos destinados a consumo devido à maior liquidez, aumentaram as suas reservas para melhorar os seus frágeis rácios de capitalização. Trocámos por isso um superior crescimento e inflação por um sistema financeiro mais estável e saudável. No Japão, a aplicação de taxas de juro negativas para determinados montantes lançou o caos um pouco por todo o lado. Não só as vendas de cofres aumentaram (antecipando superiores reservas de moeda), como não houve resultados concretos que provem o sucesso da medida.
Mudando o foco para a moeda, o grande objetivo oculto com as medidas de compra de ativos e de descida das taxas de juro seria a sua consequente desvalorização. Contudo, o que se verificou com a descida das taxas de juro foi, ironicamente, o contrário do expectável, ocorrendo uma valorização do euro e do yen face ao dólar. Caímos por isso numa guerra de moedas, em que cada autoridade tenta tomar decisões para seu benefício, mas que na prática resultam num jogo de soma zero. Este resultado advém do facto de o “bolo económico global” ser simplesmente repartido de uma forma diferente, não havendo, no entanto, um aumento deste “bolo”. Então, o que fazer?
Com difícil aplicação em países da Zona Euro, sobretudo devido ao receio germânico de inflação descontrolada devido aos acontecimentos dos anos 1920, está a solução apresentada por Milton Friedman do “helicóptero monetário”. A aplicação posteriormente desenvolvida pelo economista Adair Turner (“Monetary Financing”) resulta num aumento da base monetária através de depósitos financiados pelos bancos centrais nas contas-correntes dos Estados. Pode ocorrer uma ou mais vezes e têm o intuito de serem transferidos para os contribuintes ou através de gastos públicos ou até através da redução de impostos. Importa referir que esta é uma solução que não poderá ser revertida, uma vez que o consumidor não irá gastar esse montante a partir do momento em que ele espera que lhe seja pedido o reembolso num futuro próximo. O Canadá é um dos pioneiros ao conceder, entre outras ajudas, um pagamento livre de impostos no valor de 5.650 dólares canadianos a famílias com dois filhos que recebem menos do que 90.000 dólares canadianos por ano.
Concluindo, a sintonia de medidas entre as diversas autoridades é urgente, a fim de se evitar um jogo de soma zero nada benéfico. Segundo Raghuram Rajan, governador do banco central indiano, ao invés de cada agente desenvolver as próprias soluções, serão necessários esforços conjuntos em termos de harmonização de política fiscal (sobretudo no que toca à redução de impostos) e de medidas estruturais. Contudo, e como referia Jean-Claude Juncker aquando do seu cargo como primeiro-ministro luxemburguês, “todos sabemos o que fazer, só não sabemos é se seremos reeleitos após a implementação”. Qual será então a solução para estas guerras modernas?
Article published on April 21st, 2016 · Jornal de Negócios
Francisco Franco Nunes
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