IMG_6967 (1) (2)Tony Blair, ex-primeiro ministro britânico e assumido pró-europeu, terminou as suas funções em 2007 admitindo o sentimento de derrota perante a árdua tarefa de fazer a opinião pública britânica acreditar numa relação construtiva com a União Europeia.

Nove anos e uma dura crise financeira depois, negoceiam-se as condições de continuação da segunda maior economia europeia no bloco dos 28.

No ano em que a União Europeia aguarda a ida dos britânicos às urnas, um dos temas mais debatidos é o futuro do maior centro financeiro europeu. Há muito que a capital londrina se estabeleceu estrategicamente como um dos principais “hubs” financeiros do mundo, beneficiando, inquestionavelmente, do livre mercado de capitais. Desenganem-se os eurocéticos que acreditam que é principalmente a União Europeia que tem a perder com o “divórcio” mais analisado dos últimos meses.

Foi em 2008, quando 53,4% dos irlandeses votaram “contra” as propostas contidas no Tratado de Lisboa, que os eurocéticos se encontraram mais perto de provar que a sua descrença está a popularizar-se. Caso o povo britânico se expresse no mesmo sentido e se, numa perspetiva bastante otimista, as duas partes chegarem a um acordo mutuamente razoável, a única certeza que pairaria era a de um início de um longo processo de difíceis e burocráticas negociações.

Na verdade, o Reino Unido poderia aproveitar uma eventual nova realidade mais independente, para explorar oportunidades no sector financeiro com mercados emergentes. Desta forma, não só conseguiria responder a prioridades internas e não comuns como iria também, futuramente, recolher os dividendos que permitiriam compensar o choque negativo de curto prazo. No entanto, acredito que a natural e inevitável divergência em matéria de regulação iria constituir uma expressiva barreira ao comércio e investimento que não se limitaria a deixar repercussões de curto prazo. O novo contexto financeiro marcado por um significativo aumento de custos e, consequentemente, uma considerável retração no volume de negócios, exigiria uma remodelação de toda a economia britânica, obrigando o país a procurar setores alternativos onde pudesse desenvolver vantagens competitivas.

O Reino Unido deixaria de ser a porta de entrada para a Europa devido à falta de capacidade de prestar determinados serviços (na maior parte dos quais é atualmente líder) para o mercado da União Europeia. Embora dispendioso e naturalmente à custa de milhares de postos de trabalho, a esmagadora maioria dos bancos ver-se-ia obrigada a realocar as suas operações para outras capitais, tal como Paris, Frankfurt ou Amesterdão. Seguir-se-ia a redução de liquidez e a dificuldade de replicar fielmente todas as vantagens oferecidas por Londres – um sólido ecossistema de serviços financeiros associado a infraestruturas de mercado já estabelecidas e um sistema legal propício.

Uma potencial saída deste Estado-membro exigirá que a União Europeia tenha, segundo previsões do Global Counsel, de suportar uma perda estimada de 15% no seu PIB. Por outro lado, e segundo a mesma fonte, os britânicos teriam de lidar com o fim da era da livre troca que atualmente lhes proporciona 50% das suas exportações. Adicionalmente, um contexto de vulnerabilidade política provocaria mudanças macroeconómicas que assombrariam a região, contagiando os investidores que se demonstrariam com menos apetite para investimento.

A meu ver, feitas as contas, o Reino Unido precisa de uma voz na União Europeia e, por sua vez, a União Europeia precisa do Reino Unido para ter essa voz.

Article published on February 21nd, 2016 · Jornal de Negócios

Ana Lambiza Pardal

 


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