Em Portugal, os adolescentes entre os quinze e dezasseis anos são precocemente obrigados a escolher uma área de estudo no ensino secundário, começando desde muito cedo a filtrar as suas preferências.
Essa exigência é, do meu ponto de vista, uma irresponsabilidade pedagógica, pois acredito que poucos são os alunos que, em tão jovem idade, possuem uma ideia da profissão que querem exercer quando crescerem. Não pode nem deve ser pedido a um adolescente uma escolha que, não sendo definitiva nem impeditiva de nada, tem uma clara influência no início da sua futura carreira profissional.
Devemos lutar por mais liberdade no nosso sistema educativo, removendo a excessiva formatação e primando pela criatividade e diálogo entre docentes e estudantes. Como? Em vez de oferecermos áreas, daríamos aos alunos a possibilidade de escolher um conjunto de disciplinas obrigatórias e optativas, onde as primeiras visam fortalecer o conhecimento básico e as últimas dar abertura e multiplicidade de escolha, à semelhança de como fazem no International Baccalaureate. Uma menor especialização fomentará a curiosidade, dando aos estudantes mais bases para decidirem qual o curso universitário que irão seguir.
As correções estruturais necessárias no ensino obrigatório são, no entanto, secundárias quando comparadas à urgência de reformas no ensino universitário. Em Portugal mais do que no estrangeiro, os cursos de Economia e Gestão (não quero extrapolar para outras áreas sem ter conhecimento de causa) carecem de proximidade com a prática, fundamental no mundo de trabalho, e são caracterizados por uma devastadora maioria de estudantes que acredita na ideia de o curso ser um fim nele próprio e não uma plataforma de crescimento.
Desde o primeiro semestre, somos induzidos a escrever notas e a resumir matéria para podermos ser bem-sucedidos nos momentos de avaliação. O processo de aquisição de conhecimento é unidirecional: o professor compromete-se a debitar matéria e os alunos a estarem fisicamente presentes, mas mentalmente apáticos. A não-existência de discussão ou debate de ideias, assumindo a matéria como verdade absoluta, é um processo que corrói a capacidade crítica que cada aluno deve fervorosamente procurar ter. Acredito que a aprendizagem deva ser um processo de construção conjunta. O professor deve indicar o caminho, mas sobretudo dar espaço para que os alunos façam a caminhada por eles próprios, permitindo a compreensão da relevância do conteúdo que está a ser ensinado. A escolha dos professores deve ser uma decisão minuciosa e quase perfecionista, pois são protagonistas no desenvolvimento das gerações futuras.
É também fundamental frisar que um curso universitário em si pouco representa: tudo depende do que se retirar dele. Os alunos universitários não podem ter a percepção de que a maior funcionalidade de um curso superior é servir de ponte para a vida profissional. Enquanto estudantes, devem ter sede de conhecimento, exaustiva curiosidade e iniciativa para pôr em causa e testar através da prática, tendo a obrigação de fazer e responder a perguntas e refletir sobre aquilo que lhes é lecionado. Sem uma participação consciente e voluntária dos alunos, nada poderá nem irá mudar.
Penso que muito se pode dizer sobre futuro de um país olhando apenas para os seus professores e alunos. Resta saber se o nosso sistema educativo permite aos professores e alunos portugueses serem tão brilhantes como queremos que seja o nosso futuro.
Article published on May 23rd, 2016 · Jornal de Negócios
Diego de Bragança Tremiterra
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