Daniela Feijoca

Lembro-me bem da primeira vez em que li o termo bitcoin. Corria o ano de 2013 e várias eram as notícias sobre a subida meteórica do seu valor de mercado, chegando este a atingir os 1200 dólares por bitcoin.

 

Mas depressa descobri que a beleza desta inovação financeira não se encontra na moeda digital em si, mas na tecnologia que a suporta – a Blockchain (ou Cadeia de Blocos).

Muito tem sido escrito nos últimos tempos acerca da bitcoin, aquela que é considerada a primeira moeda digital descentralizada do mundo. Uma breve pesquisa na internet permite-nos ter acesso a artigos verdadeiramente fascinantes acerca desta inovação; muitos desses artigos, à semelhança deste, são de opinião. Opina-se, acima de tudo, acerca do futuro da bitcoin e se é ou não um bom investimento – um tópico mais controverso do que parece ser à partida, a avaliar pelas discussões acesas que tenho testemunhado, sobretudo em fóruns online.

Ao ler isto, o leitor provavelmente interrogar-se-á sobre qual será a minha opinião acerca deste assunto.

Vamos por partes: como referi anteriormente, a bitcoin é uma moeda digital descentralizada. Lançada em 2009 como “software” de código-aberto, pode ser obtida como pagamento por bens e serviços, através de troca entre utilizadores, através de um processo intitulado “mining” ou comprada numa “Bitcoin Exchange”. O facto de ser descentralizada significa que não existe um banco central que controle a oferta de moeda, sendo a mesma finita e determinada por um algoritmo com taxas de crescimento decrescentes. Assim, as transações são feitas diretamente de pessoa para pessoa, não necessitando da ação de terceiros de confiança. Consequentemente, as taxas por transação tornam-se significativamente baixas. Além disto, transações com bitcoins podem ser feitas em qualquer país, não existem pré-requisitos ou limites à adesão e as carteiras digitais de bitcoins não podem ser congeladas. Contudo, as aparentes vantagens da bitcoin são contrabalançadas pelos eventos negativos que têm marcado a sua infância. Casos de furto, fraude, a falência de uma importante “Bitcoin Exchange” – a Mt. Gox -, a utilização de bitcoins em mercados online de venda de drogas ilegais e, não menos importante, a elevada volatilidade da bitcoin são exemplos muitas vezes transformados em argumentos por quem que não acredita no futuro desta moeda.

Posto isto, investiria eu na bitcoin? Sim, sem dúvida, mas não na bitcoin enquanto moeda, principalmente devido à falta de estabilidade de preços. Parece paradoxal, mas não é. A palavra-chave por detrás deste raciocínio está no termo “descentralização”. Entrando em detalhe, aquilo que permite à bitcoin ser uma moeda digital descentralizada é a tecnologia que lhe está subjacente – a chamada “Blockchain” (ou Cadeia de Blocos). A “Blockchain” é um registo público e compartilhado de transações sem o qual a rede bitcoin não conseguiria funcionar em segurança e cuja integridade é mantida com recurso à criptografia. Todas as transações confirmadas entre utilizadores são prontamente incluídas na “Blockchain”, juntamente com informação sobre a hora, a data, os participantes e o montante de cada transação. A importância da “Blockchain” advém do facto de, no mundo real, ser difícil confiarmos uns nos outros. Por vezes, pode até mesmo ser difícil confiar em instituições ou negócios com boa reputação. As características da “Blockchain” eliminam o fator “desconfiança”, visto permitirem que comportamentos desonestos possam ser facilmente identificados, sinalizados e dados a conhecer aos outros utilizadores da rede.

Assim, acredito que a “Blockchain” tem o potencial de revolucionar o sistema bancário ao qual nos acostumámos e de dar origem a uma multiplicidade de negócios e invenções, alguns dos quais ainda não conseguimos sequer imaginar. Pode dizer-se, portanto, que o valor que pessoalmente atribuo ao fenómeno bitcoin se baseia na tecnologia largamente inexplorada no qual ele assenta.

 

Article published on May 17th, 2015 · Jornal de Negócios

Daniela Feijoca


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