Portugal – o campeão na redução dos juros
Os juros da dívida portuguesa emitida a 10 anos estiveram nos 3,7% no início de 2017 e acabaram o ano nos 1,85%, uma diferença de apenas 0,46% em relação aos juros da dívida espanhola que se situam em 1,39%
Em março, o ministro das Finanças afirmou que as três grandes agências de “rating” não tratavam o país de forma justa, ao manter a notação de lixo aplicada no auge da crise. Há três meses, Portugal dependia da notação da agência canadiana DBRS para se qualificar para o programa de compra de títulos do BCE e sentia uma pressão constante sempre que a agência agendava uma revisão do “rating”. Agora será uma questão de tempo até a Moody’s, que realiza a revisão da notação este mês (janeiro), seguir o mesmo caminho e retirar o país definitivamente do lixo.
O ministro das Finanças, que este mês assume o cargo de presidente do Eurogrupo, presidiu uma notável reviravolta na economia portuguesa nos dois últimos anos. Com o défice mais baixo das últimas quatro décadas e a taxa de desemprego a voltar a níveis de 2009, a equipa de António Costa conseguiu fugir à ameaça de sanções por défice excessivo por parte da Comissão Europeia, e colocou o país numa perspetiva de crescimento, que há pouco mais de dois anos não se imaginaria possível.
Existe, no entanto, uma questão que deve causar preocupação: o Banco Central Europeu anunciou que irá cortar o programa de compra de dívida de 60 mil milhões de euros mensais para metade e certos analistas preveem mesmo que este estímulo acabe por completo no final de 2018. Se o país não tivesse conseguido reduzir as taxas de juro e ficar em “boa forma” como está agora, o fim deste programa poderia ser um sério “turn-off” para os investidores e fazer subir em flecha as taxas de juro.
Esta reviravolta é, apesar de tudo, um feito histórico para um dos países mais afetados pela crise, cuja taxa de desemprego atingiu máximos de 17% em 2012. Esta “magnitude sem precedentes” da reavaliação da economia portuguesa pelas agências de notação de dívida acaba por ser um reconhecimento do controlo da despesa pública, da diminuição do desemprego e do fortalecimento do sistema bancário feito no último par de anos. Resta saber se os atuais aumentos da despesa pública são sustentáveis e se os esforços até agora feitos não cairão em “saco roto”.
Tiago Marques,
Investment Banking Division
Article published on January 8th, 2018 · Jornal de Negócios
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