IMG_1770Nos Estados Unidos, pesquisas recentes realçaram vários aspectos da política monetária do “chairman” Alan Greenspan, notando que a Reserva Federal era “forward looking”, suavizou as taxas de juro e era orientada para a inflação.

Alguns analistas mostraram que a regra de Taylor conseguiu descrever as políticas levadas a cabo pela Reserva Federal durante os mandatos Greenspan e Bernanke. A minha análise irá viajar através das eras Greenspan e Bernanke, onde uma política monetária “rule based”foi realmente posta em prática, mas que rapidamente divergiu para uma política discricionária.

Em 1993, John Brian Taylor, economista e professor da Stanford University, propôs uma regra sobre política monetária, a fim de definir o nível natural das taxas de juro de forma a permitir estabilidade de preços e pleno emprego. O papel da regra é estipular quanto o banco central deve alterar as taxas de juro nominais em resposta a alterações na inflação, PIB, ou outras condições económicas. Por fim, a grande vantagem de uma política monetária “rule based” é a redução da incerteza e o aumento da credibilidade da instituição acerca das suas acções futuras.

A regra é elegantemente expressa numa equação linear – a “rule of thumb” diriam alguns – que captura as determinantes principais que alguém que elabora políticas monetárias deve ter em conta:

Nesta equação, it é a taxa de juro nominal de curto prazo pt simboliza a taxa de inflação e o seu valor com asterisco representa o pretendido objectivo de 2%, rt é o nível natural da verdadeira taxa de juro, ut é o actual nível de desemprego comparado com o de NAIRU – ut* – (a taxa de desemprego relativa ao pleno emprego de factores de produção).

A regra parece captar todos os ingredientes para uma boa receita monetária. O que mais importa é a verdadeira relação entre as variáveis, que é captada pelos coeficientes. Estes medem as respostas, a longo prazo, das taxas dos fundos em relação à inflação esperada e ao “unemployment gap”, sendo ambos assumidos como positivos, indicando que a Reserva Federal eleva a taxa dos seus fundos se esperar que a inflação e/ou o “unemployment gap”subam.

Apenas precisamos de olhar para o gráfico abaixo para observar o comportamento da Fed nos últimos 20 anos. Até 2008, podemos ver como a regra consegue prever as suas acções, sugerindo que esta respondeu fortemente à inflação esperada e ao abrandamento do desemprego.

Mas depois, o que aconteceu? A Fed decidiu manter a taxa de juro muito baixa – o que tinha já acontecido em 2003-2005, mas não na mesma magnitude dos dias de hoje. De acordo com Taylor, esta mudança de política trouxe uma procura por rendimento, excessos no mercado imobiliário, bem como um processo desregulador, criando o que podem ter sido os factores-chave na crise financeira

Estamos agora a assistir a um atraso em que a política “rule based” indica que o “timing” para a subida deveria ter sido muito antes, revelando um “spread” deTaylor de 2,38%.

As dúvidas que surgem são se há ou não alguns factores, obviamente não tidos em conta pela regra de Taylor, que determinem as decisões dos políticos. As linhas de crédito barato estão, de facto, alinhadas com algumas ideias pilares dos políticos americanos da altura como “uma casa para cada família americana”. Se tivéssemos em conta um “noise term” na regra de Taylor, tais conflitos políticos e de interesse podiam ser menos influenciados pelas suas previsões.

Voltando aos dias de hoje, podemos tentar perceber porque é que a Fed está a demorar tanto tempo para tomar uma acção que, de acordo com dados económicos, poderia ter sido tomada há muito mais tempo, questionando o que taxas mais altas significariam para a economia real e o seu impacto nas classes sociais. Em resumo, uma subida levaria a uma perda para os devedores, uma vitória para os poupados, mais volatilidade nos mercados bolsistas (com taxas mais altas, a “equity” desce) e o perigo que os salários sejam prejudicados. Todos estes factores têm aquilo a que eu chamo um peso político e acredito que o acima mencionado de “noise term” deve incorporar todos eles.

Article published on August 9th, 2015 · Jornal de Negócios

Edoardo Colella

 


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