A percepção de que a presença de capital estrangeiro em Portugal não é benéfica é uma ideia generalizada e, na minha opinião, nem sempre correcta. Este preconceito é especialmente válido para os países em desenvolvimento.
Há vários factores que atraem o investimento directo estrangeiro a países como Portugal que não passam pela vontade de conquistar e manipular. Apoiando a minha opinião nos eventos mensais ‘Hot Spots’ organizados pelo Nova Investment Club da Nova School of Business and Economics, gostaria de dar enfâse aos casos da China, Angola e Brasil, todos com interesses distintos.
O interesse da China em apoiar a economia europeia é perfeitamente compreensível. O principal destino das exportações chinesas é a União Europeia. Assim, a estabilidade macroeconómica na Europa é fulcral para a manutenção destas trocas. O apoio tem sido direcionado tanto para Portugal como para outros países europeus – como é o caso das obrigações da Grécia, que acredito não serem adquiridas com a finalidade do lucro.
O facto da China Three Gorges ter abdicado de três dos sete lugares a que tinha direito na EDP contraria a ideia de tentativa de manipulação e de conquista de Portugal, realçando outros interesses. A EDP tem dos departamentos de energias renováveis mais avançados do mundo, sendo o interesse em aprendizagem e know-how a justificação mais plausível para este investimento.
Em relação a Angola, as ligações históricas que nos prendem não são por si só suficientes para o interesse do seu investimento. A presença no mercado português pode também ser vista como uma oportunidade de aprendizagem pelas equipas de gestão angolanas e uma possibilidade de formação de quadros técnicos. É importante realçar que a sua presença não é maioritária em nenhuma das empresas do PSI-20, o que demonstra que Angola não procura controlar o tecido empresarial português. Na realidade, há uma forte reciprocidade nas relações comerciais, sendo a presença de Portugal no mercado angolano muito acentuada, especialmente no sector da banca. Há inclusive um número considerável de jovens a trabalhar no país, sendo este mercado deveras convidativo.
O mesmo sucede com o mercado brasileiro que, em contínuo crescimento, tem representado mais um refúgio para os portugueses. Todavia, ao contrário do que acontece com Angola, o investimento do Brasil em Portugal acaba por ser menos orientado por motivos técnicos ou políticos, já que o país possui os recursos necessários. Assim, o investimento brasileiro está mais focado numa relação óptima de retorno e risco, à semelhança do que acontece nos países ocidentais.
A tendência futura é para o contínuo aumento da presença de capital estrangeiro em Portugal e vice-versa. Esta noção de mercado global não deve ser vista como uma ameaça, mas sim como um ponto de partida para novas oportunidades e desafios.
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