Diogo_L._pass_formatCompletou-se, recentemente, um ano desde a implementação do Memorando de Entendimento com a troika. No contexto deste marco, vale a pena reflectir acerca de como os desenvolvimentos registados ao longo deste ano se traduziram numa melhoria das perspectivas actuais e futuras de Portugal, bem como nas lições que daqui se podem retirar para uma melhor construção do projecto europeu.

Começando com a renegociação do acordo de ajuda externa, esta não parece ser, no actual cenário, uma hipótese para os responsáveis do acordo: apenas um evento de alto impacto, como uma expulsão da Grécia do Euro, poderia constituir razão suficiente para essa alternativa ser reconsiderada. Na frente política, os partidos da maioria parlamentar, bem como o principal partido da Oposição, mantêm uma relativa sintonia, que por sua vez se traduz na estabilidade do compromisso político que suporta o programa em vigor sob a égide do Governo PSD-CDS (o qual completou, também recentemente, um ano da sua eleição). Assim sendo, o quadro político português parece estar razoavelmente estabilizado no curto prazo, tendo sido parcialmente auxiliado por conquistas iniciais que, embora importantes, não são suficientes para garantir o sucesso do programa e uma tão necessária reparação da governança política e económica do País no longo prazo.

Isto porque existem variáveis que têm de ser tidas em conta e cujo ajustamento só a partir de agora se reflectirá. Tomando o exemplo do desemprego, que representa, neste momento, o problema sócio-económico de maior relevância, este tem assistido a uma evolução preocupante, e atingirá, de acordo com as previsões da própria troika, 15,5% da população activa no final de 2012. A chaga social que este tema constitui é cada vez mais evidente em várias situações: das manifestações sindicais, à revolta em conversas travadas em vários episódios do dia-a-dia, à pobreza cada vez mais presente. O potencial de convulsão social incluso neste assunto deverá forçosamente constar da agenda dos responsáveis nacionais e internacionais, visto este problema não ser exclusivo do caso português, mas antes comum ao quadro comunitário europeu.

É fundamental que, num futuro próximo, os Países-Membros da União Europeia e respectivos líderes acordem sobre certos parâmetros estruturais no contexto do emprego. Contudo, é essencial que aqui sejamos capaz de aprender com o passado e gerar políticas sustentáveis (tanto social como financeiramente) que garantam que a promoção do emprego não fica refém da capacidade de o consumo público o financiar, assentando antes num alinhamento de incentivos dinamizadores da actividade económica. Um acordo inicial sobre um tema tão importante como este poderá tornar-se um alicerce para o lançamento de uma iniciativa mais ampla dos pontos de vista político, social, e económico, constituindo o primeiro passo sério em muitos anos no sentido da saída da crise na Zona Euro e do aprofundamento da conquista civilizacional que constitui o projecto europeu.


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